segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O Ano da Raiz Crescente

     



     2013 está na reta final e eu me assustei quando, ao escrever para este espaço, percebi que um dos únicos posts que têm aqui é sobre o final de 2012. Meu Deus, como consegui passar tanto tempo sem compartilhar o que aprendo ou desaprendo?  Ontem mesmo estava batendo um papo cabeça com meu pai e comentei com ele do medo que eu tenho de parar. Não de morrer, pelo contrário, acho divina a ideia de morte, mas isso é pessoal demais para desenvolver agora. Falo de ficar parada, mesmo, como a água que se torna propícia para criar bichinhos. Claro que até isso tem seu lado bom, porque a água parada consegue fazer vida, mas, puxa, eu não sou água (adoraria)! Me apavora não mudar, ainda que as mudanças aparentemente não tragam nada de bom. E quando acessei o blog, caí em contradição. Mas o importante é se dar conta.

     Eu não quero falar do fim do ano. Pelo menos, não literalmente. Tudo o que não é literal me empolga mais. Nunca consegui achar que está chovendo só porque as nuvens se encheram d’água. Respeito quem consegue, mas hoje sei, felizmente, por que nunca fui capaz de olhar o mundo dessa forma. Eu não quero falar de nada óbvio, simplesmente porque não sou assim. Então, vou abordar um tema tão pessoal, que seria egoísmo ficar só comigo: o cabelo castanho.

     Isso mesmo! Sempre que perguntavam qual a cor natural do meu cabelo, eu entristecia. Eu achava óbvio demais falar só assim: castanho. Mas castanho o quê? Castanho claro, castanho escuro? Não, simplesmente castanho. O pavor de ser tão simples me fez começar a fazer luzes loiras lá pelos dez anos. Aos poucos fui me aventurando mais e um belo dia fui à escola com o cabelo loiro platinado. Amei o contraste, o choque, o não-óbvio e, para mim, tudo aquilo era atrevimento completo, então eu estava satisfeita. Passei um bom tempo oxigenando a consciência, até enjoar. Lembro exatamente o que me fez enjoar: assisti ao filme Lua de Fel e desde então botei na cabeça que a protagonista, Mimi (Emanuelle Seigner), era o exemplo de mulher que eu queria ser. E, vejam só, ela não era exatamente... loira (ao menos, não de farmácia). Comecei a escurecer meu padrão de beleza e, de repente, pintei o cabelo de “chocolate”. Não era castanho, era chocolate, mais legal de pronunciar quando perguntassem. Foi indescritível a sensação de reencontro comigo mesma e só então entendi que o louro branco até poderia ser incrível, mas não tinha mais nada a ver comigo. Teve, por muito tempo, mas já não me encontrava mais no grupo oxigenado do universo.


     Permaneci só alguns dias com o cabelo achocolatado. Com o passar do tempo a coisa ia desbotando, avermelhando e igualando com o tom da minha pele. Queria contraste. De novo, o horror ao óbvio, ao direto, nu e cru. Estava passando por um momento difícil e foi quando decidi tingir de preto. Aproveitei cada “indiazinha” ou “libanesa” que ouvia, fingindo que me dizia respeito. Mimi é a eterna referência, mas era Mia Wallace (Uma Thurman) de Pulp Fiction que agora se apresentava.  E finalmente cheguei no final (perdoe a redundância) de 2013. Cansei do cabelo comprido, cansei das costas (ou dos seios, depende do referencial) encobertos. Cansei de me cansar. Mas a verdade é que cortei o cabelo para resgatar o castanho simples e direto que existe em mim. Decidi não mais colorir os fios, e, em vez disso, colorir mais a vida. Essa danada está precisando de cor, embora eu prefira as sombras, o etéreo, o raio tímido de luz que vai iluminando a escuridão aos poucos, sem correr o risco de cegar. E agora que resolvi ver como é o famoso “deixar crescer a raiz” das mulheres que tingem os cabelos, entendi que o exemplo é demasiadamente belo.

      Não tem coisa mais linda que deixar crescer a raiz. Poucas sensações na vida inteira são melhores que estar deitado debaixo de uma árvore, olhando para o alto. Apoiar-se sobre a raiz, sobre a terra que nos fez, é divino, seja qual for a visão de “divino” que você (não) tenha. 2013 tem sido (porque NÃO ACABOU AINDA, em Caps Lock mesmo pra ver se fica claro) essa palavra para mim: autoconhecimento. Meu respeito às mulheres (e homens também, por que não?) que tingem suas raízes (continuo achando bonito), mas minha reverência, de joelhos, aos nativos de si próprios. Feliz 2014!

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De Mulher para Mulher; porém, universal

     
     




     Tive vontade de falar com todas as mulheres do mundo depois que certos assuntos se tornaram recorrentes no meu dia a dia nas últimas semanas. Tudo começou quando eu estava na primeira aula de Samba de Gafieira, dança que resolvi fazer para, além de aprender novos passos, colher informações para um projeto pessoal. Primeira aula, básico do básico do básico. Eis que o professor resolve testar o "instinto" de suas alunas simplesmente se aproximando e oferecendo-lhes um braço. Não sei explicar, mas é ridiculamente instintivo como abraçamos na hora, como se nossas mentes tivessem sido programadas com a seguinte mensagem: "se um homem lhe chamar para dançar, agarre essa chance". É absurdo como pensar na Cinderela temendo não ser escolhida por seu príncipe pelo sapatinho que, valha-me Deus, era dela!

     O professor, então, continuou sua aula fascinado pelo sucesso de seu exemplo. Depois, explicou que a beleza do Samba de Gafieira está na dama, que se esquiva do "malandro" se exibindo para ele. É algo como "você só pode olhar, não tocar". OK, mas alguma coisa ainda não estava certa dentro de mim. Mesmo essa história de não-me-toque ainda soava pedante; procurei, no entanto, não levar tudo tão ao pé da letra, caso contrário não conseguiria dançar, já que é preciso colocar a alma no negócio.

     Dias depois, lá estava eu em uma aula em que sou eu mesma, livre e despreocupada, forte, embora também iniciante. Estava na Dança Cigana. E o assunto homem-mulher-dança surgiu de novo, na forma mais linda que pode haver (para mim). Aprendi que é a cigana que envolve o cigano em sua dança, mas é tudo meio de lado, afastando-se ao menor indício de aproximação. Aprendi que o casal se respeita porque um reconhece a beleza da alma do outro, mas não se preocupa em dissecá-la, aprisioná-la para si, tocá-la. É um toque indireto, por isso mais bonito. Fiquei mais feliz e a semana seguiu assim, felizmente, aliviada.

     Aí, encontrei amigos na festinha de aniversário do filho de uma amiga querida, cuja espontaneidade e leveza do ser é quase inexplicável, de tão sincera. E qual foi o assunto? Crianças (meninas) criadas com o estereótipo de princesa. Não tinha me dado conta do quão perigosa é essa "criação", até surgir essa conversa. Acho que quis ser princesa em algum momento da infância, não vou negar. Também não vou negar que havia cavaleiros medievais caucasianos fantasiados na mente, que me salvariam, mas... do quê? De que salvação nós, mulheres, precisamos? Dos rótulos, talvez. Das amarras de um "instinto" em que se abraça o primeiro que lhe estende a mão. Ou, tanto pior, do julgamento de abraçar o primeiro que lhe estende a mão, que problema há nisso?! Qual o problema em estar sempre pronta para dançar conforme a música? E qual o problema em não querer dançar? Qual o problema em escrever um projeto de Mestrado em que, de forma louvável, se pretende estudar o funk como expressão do feminismo? (Para quem não se lembra, releia aqui).

     Enfim, qual o problema em ser o que nossa essência nos permite? Hoje sou assim: se for para ser princesa, que seja por ter uma mãe rainha e um pai rei, mas já adianto que prefiro uma coroa de galhos, folhas e flores, que me impulsionam a viver em harmonia com a natureza: a exterior e a minha própria. Que saibamos encontrar nossa natureza nos mais singelos momentos do dia. Grande beijo!

terça-feira, 7 de maio de 2013

Um abraço, muitas lições



     Se eu pudesse resumir essas duas últimas semanas em uma única frase, certamente seria o clichezão “recordar é viver”. Passei os últimos dias recordando, com saudade. Velhas fotos, velhos hábitos, velhas manias, velhos amores que, se já velhos, nunca foram amores... disso eu também me lembrei. Mas para perceber que de repente toda essa velharia morreu, não tem mais vida dentro da minha própria vida. Simplesmente não gosto de nada que não me faça mais falta. Mas junto a essas lembranças tórridas, vieram também as doces. Essas, sim, deixam saudade, porque sempre farão parte de mim. Liderando todo esse pensamento doce, ali estava meu falecido avô, como que montando os cavalos que ele desenhava para me mostrar que tudo que há nessa vida é passível de ser domado, montado. Exceto a morte. O que não acho ruim, pelo contrário! Mas essa discussão não cabe aqui, por isso me deixo prosseguir.

     No último sábado, o momento mais doce do meu dia foi ter segurado um bebezinho, até então desconhecido, no colo. Soube, depois de ser agraciada com o sorriso mais puro e o toque da mais singela mãozinha sobre meu colar, que aquela criança tinha um problema no coração. E ela se deitava sobre meu peito, como a pedir que eu a fizesse dormir. Foi então que entendi o sentido total de uma palavrinha em torno da qual eu fantasiava demais: proteção. O sentido mais primário da proteção é instintivo, é a proteção de que um bebê precisa diante do mundo a que veio; o cuidado. E, de novo, vovô me veio à memória. Isso porque, no dia mais triste de minha vida, há algum tempo, quando eu cheguei a pensar que nada mais havia de ser feito e por isso ninguém faria por mim... sonhei com meu avô. Ele apenas me abraçava sorrindo e eu me deitava em seu peito, igualzinho a um bebê com sono. Ele parecia dizer que tudo ficaria bem. Não disse, mas ficou tudo bem a partir de então. Simples assim.

     Ontem, assistindo a uma previsão astrológica semanal na TV, a astróloga dizia que a água - portanto, os signos regidos por ela - representa a emoção. Água também lembra vovô, água do mar. Porque ele pescava, morava na praia; ensinava-me, quando eu era criança, que eu não deveria ter medo do mar. Mas certamente não me deixava ir longe quando eu corria para as águas de Iemanjá. Nem longe, nem sozinha. Isso, de novo, é proteção.

     Toda vez que minhas emoções ficam à flor da pele, acredito que vou tirar alguma coisa importante delas, algum aprendizado. Dessa vez eu entendi, pessoalmente, que algumas vezes precisamos proteger aqueles que amamos. Outras vezes, precisamos ser protegidos. A proteção é algo muito mais amplo do que aquilo que eu achava que era. Antes, eu achava que para estar protegida era preciso materializar isso em amuletos, quais fossem. Hoje, se eu não tiver um amuleto, ao menos tenho a certeza. 

     Antes, quando eu segurava um bebê no colo - geralmente bem conhecido, da família - esbravejava por não conseguir fazer a criança dormir, mesmo sabendo que ela tinha sono, enquanto minha mãe só encostava o pequeno em algum canto mágico do corpo e a mágica acontecia. Hoje eu entendi que não se trata de mágica. Que a criança tinha sono, mas só se entregaria onde sentisse proteção. Porque eu só me preocupava com um jeito certo de segurar e encostar no peito para mostrar que estava fazendo certo, quando, na verdade, não importava "o certo". Hoje sei que, se alguém precisar de proteção, basta conceder. É simples como ouvir "não vai muito fundo!" quando você decide entrar no mar. Ainda sobre o mar, simples como sentir-se segura num barco quando você conhece quem está no comando do motor ou da vela. E simples como abraçar/ deixar ser abraçado e, sem dizer nada, ensinar/aprender tanto.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Mas esse mundo ainda tem jeito

     Na última sexta-feira, voltando para casa depois da meia-noite, consegui ainda adentrar o famoso "último ônibus" que, em uma sexta-feira, consegue variar de extremos: deixa de ser o coletivo-dos-cansados e passa a ser o transportador de baladeiros. Meu caso não era nenhum desses. Ia tranquila, observando tudo, deixando de lado pelos próximos quinze minutos de trajeto o hábito de ler, ouvir música ou mexer no celular. Até porque mal conseguia me mexer para pegar o livro, o celular ou o fone de ouvido.

    Segundos antes de o coletivo partir, uns cinco rapazes rumo-à-balada entraram e preferiram ficar em pé, na porta, bem a minha frente. Deles, vinha o fulgor da juventude: risadinhas estridentes, expectativa por quantas iriam "pegar" aquela noite, gírias e quase nenhuma frase que não se relacionasse a sexo. Nada que não soasse natural, exceto para o moço a meu lado, que, óculos com lente colorida espelhada por cima do boné do Corinthians,  determinou:

_Mano, vocês querem fazer o favor de respeitar a moça aqui do lado? Po%&*@, se fosse a irmã ou a mãe de vocês aqui sentada, não estariam falando essas coisas! Respeita aí, falou?

     A moça de fato não era irmã nem mãe ali. A moça era eu. Eu-moça não estava incomodada com a conversa; ao contrário: eu-moça estava a recordar, com certa saudade, as ocasiões em que era eu ali, parte de um grupinho, contando os minutos para o que eu considerava diversão, não por acaso os mesmos assuntos (a não ser pelas gírias). Eu-moça estava a reparar a semelhança dos rapazes com meus primos, meu irmão, e imaginando que, se já estavam cheios de assunto, voltariam transbordando. Eu-moça estava já crescida, sabe-se lá o que isso queira dizer, e pedia a Deus que os protegesse, quase arriscando (só para mim mesma, é claro) uma das falas maternas mais pronunciadas: "só não vão beber muito, hein?!", mesmo sabendo que, sim, eles beberiam muito - inclusive já estavam planejando o esquenta no próximo posto de gasolina. E eu-moça, seguindo a mesma linha protetora, temi por uma briga ali mesmo, da qual eu seria o pivô, de graça. Mas eis que a graça, mesmo, foram os momentos seguintes à bronca coletiva. TODOS os rapazes responderam, quase ao mesmo tempo:

_Pô, pode crer, foi mal aí moça! Sérião, desculpa mesmo! _seguidos por um aceno com a aba do boné corinthiano e um "jóinha", que algo me diz estar mais para um "falou, é isso aê".

     Silenciaram, desembarcaram, seguiram em frente. Eu, ainda admirada, tive a admiração cortada pelo integrante do bando de loucos:

_Sabe como é, eu não consigo aceitar essas coisas. Mano, esse tipo de conversinha tem hora e lugar. Você deve ter seus vinte anos, a idade do meu filho. Meu filho se fala uma coisa dessas perto de uma moça... na verdade ele nem é louco de falar, educação vem de casa. Na minha época rolava mais respeito. Esse mundo tá mesmo perdido.

     Vinte e um. Mas esse mundo ainda tem jeito.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tesouros Musicais


Um dos aspectos mais interessantes das redes sociais é, a meu ver, a possibilidade de conhecer melhor o perfil das pessoas. Não estou colocando em questão até que ponto um perfil numa rede social pode ser verdadeiro, no caso de refletir uma personalidade. Não é novidade que as informações que uma pessoa coloca em seu perfil no Facebook, por exemplo, hoje são analisadas por profissionais de Recursos Humanos, sendo poderosas para indicar dados a outro perfil: o profissional.
     Introduções à parte, gosto de fazer perguntas simples às pessoas e fazê-las pensar em respostas complexas. Às vezes acho que toda pergunta simples esconde uma resposta complexa. Exemplo disso foi uma pergunta que fiz no Facebook na semana passada: “se você tivesse de escolher uma música como trilha-sonora de sua vida, qual escolheria?”. Achei interessantíssimo observar como as respostas de meus amigos têm a ver não só com eles, como seria absolutamente natural, mas também comigo!
     As duas primeiras respostas indicaram uma “difícil pergunta”. A Bruna Andrade, primeira a responder, eu conheci por intermédio de um amigo músico em uma ocasião engraçada. Seu estilo rocker e a amizade em comum não me deixaram dúvidas: a menina sacava de música, talvez com o mesmo gosto musical que eu, na ocasião. E talvez por isso tenha dito que a pergunta é difícil: vida musicada a muitíssimas trilhas!
     Algo parecido ocorreu com a segunda resposta, da querida Clélia Barbosa, professora de dança cigana. Fui sua aluna e sou eternamente encantada pela maneira como suavemente dança e vive. Ela respondeu “não sei” e é claro que não sabe, pois uma professora de dança ensina como “bailar conforme a música”, o que deve ser um poderoso indício de que viverá de acordo com a canção que a vida estiver tocando para ela dançar. E isso é mágico, me inspira!
     Depois, veio a resposta da Ariadine Rodrigues, minha amiga dos tempos de colégio. Ariri, como carinhosamente a chamo é “manauara” (nasceu em Manaus) e, por causa disso, brincávamos de chamá-la de índia na escola e nos divertíamos imitando índios para “saudá-la”. A resposta dela foi… ah, que divertida, “Dança da Chuva”! Que esse carisma indígena sempre a acompanhe.
     A Karen Gallão, que conheci no Twitter graças ao interesse comum pela dança cigana (viva!), respondeu “Montaña” dos Gipsy Kings. Sem antes dizer… “uma só? Difícil…”. Acho que para alguém que baila, principalmente essa dança amada que toca dentro do coração, é mesmo muito difícil. Mas essa música, perfeita para sonorizar uma vida inteira, afasta qualquer dificuldade. Amei a escolha: baila gitana!
     A Kitty Vilas Boas, que conheci na TV Gazeta onde trabalhávamos, respondeu “Tranquilo”, da Bebel Gilberto. Não conhecia a música, mas fui ouvir todas as escolhas para este texto e achei uma tranquilidade só, mesmo! Além da melodia deliciosa, a letra diz de cara: “Levo a vida tranquilo/ não tenho medo do mundo/ não vou me preocupar“.  Ah, a Kitty não tem mesmo por que se preocupar. Poucas vezes presenciei uma pessoa com tanto ânimo diante de qualquer dificuldade. Vou aprender com ela a “levar a vida tranquilo”. Tenho tentado e, por ter tentado, tenho conseguido.
     O Auro de Oliveira Junior, também amigo do colégio, respondeu… “Mario Bros Theme”. Aurinho, saiba que, quando eu era criança, costumava dizer uma frase que eu pensava ter “criado” e achava genial (convencidinha desde cedo, hehe): “A vida é como um videogame, porque a gente tem que ir passando de fase”. Acho que só consegui entender a vida nessa perspectiva depois de zerar a fita do Sonic no Mega Drive: matar Robotinik era o maior desafio de minha infância. Não faz muito tempo, mas não tinha dica na internet naquela época, então posso considerar um desafio enorme, certo?
     O Cristiano de Oliveira, querido amigo que conheci no Estadão onde trabalhei respondeu “Tocando em Frente”. Essa música me enternece tanto quanto o sorriso seguro de si do Cris; sorriso, este, que combina perfeitamente com uma música que diz “…levo esse sorriso porque já chorei demais“. Não importa o quanto tenha chorado, porque com esse sorriso, a lágrima fica com vergonha de cair.
     A Iara Silva, amiga que também conheci no Estadão respondeu “Water no Get Enemy”, Fela Kuti. Outra canção que eu não conhecia e que passei a incluir na listinha pessoal. Afrobeat que é a cara dela, não porque ela tenha dreads, mas porque a cultura iorubá adorna a vida dessa minha irmã e, se pôde enfeitá-la, vai conquistar o mundo todo num estalo. Se é que já não conquistou…
     O Simão Filho, meu tio-avô, respondeu “Estrada da Vida”. Curiosamente eu tenho estado na dúvida entre encarar a vida como uma longa estrada, com seus caminhos abertos, encruzilhadas, pedágios, passagens, encontros e desencontros ou como uma escola, com seus aprendizados todos. Suponho que haja uma escola na beira da estrada dessa minha vida, na qual eu parei para me preparar um pouquinho (ou muito). É, tio, essa trilha-sonora é para quem sabe como dirigir a vida, como o senhor. Só não vá deixar o tempo cercar sua estrada, como diz o finzinho da letra, hein?
     Outro querido do Estadão, que também manja das ruas da vida é o Murilo Rettozi, que respondeu depois do tio Simão. E a resposta foi… “Thunder ROAD”, reparem na caixa-alta. Esse é meu irmãozinho conhecedor da boa música, das escolhas, dos caminhos. Ele sabe por que tudo isso. E “Thunder Road” é certamente a trilha-sonora de alguém que encontrou uma estrada para seguir, mas não foi sozinho. Uma gargalhada estridente para quem ainda acha que é possível seguir só!!!
     Em seguida veio a resposta de Janny Marco, minha tia-madrinha: “My Way”. My Way era a canção de que seu falecido marido, meu querido tio Vado tanto gostava. Eu era criança quando nós o perdemos. Não sabia Inglês e nunca entendia se esse “way” traduzia-se como “caminho” ou “maneira”. Hoje já não importa, porque entendi, com ou sem essa música, que devemos trilhar o caminho à nossa maneira. “My Way” começa dizendo que “agora o fim está próximo”. O fim daquele caminho de meu tio havia chegado mesmo, mas essa grande guerreira fez, do jeito dela, como sempre, um novo começo.
     Minha mãe, Vera Bueno, amor incondicional para uma vida inteira que eu viva até o limite e mais uma porção delas, respondeu com “Tocando em Frente”, assim como o Cris. Quem compreende melhor uma marcha, para tocar em frente, como uma mãe? Quem conhece melhor as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs… que uma mãe? Descobri no Facebook que a trilha-sonora da minha mãe é ser mãe, porque vai tocando a vida dela e a minha junto. Sou abençoada.
     Gabriela Monteiro, minha amiga de colégio e de outras fases desses meus 21 anos de vida respondeu por último, mas não menos importante, com “La Vie en Rose”. Se eu não soubesse que ela escolheria essa música, arriscaria dizer que ela escolheria como trilha-sonora uma canção para quem não ESTÁ, mas É apaixonado. Gabi é apaixonada: por meu amigo Murilo Bodo, pelo que faz, pelo que é. É apaixonada pela vida. Não poderia haver mensagem mais bela para minha simples pergunta.
     Agradeço aos amigos por terem-me proporcionado mais esse aprendizado. Quis conhecer melhor seus perfis e acabei adaptando meu perfil a todos esses laços de afeto e personalidade que nos unem. Minha trilha-sonora, “Senhora das Candeias”, diz que “meu coração é feito de pedra de ouro/ o meu peito é um tesouro que ninguém pode pegar”. Vocês acrescentaram mais joias a este tesouro que é meu coração.
Com amor e muita música,
Marcela

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A Queda D'água (Não Leia em Voz Alta)

     
     Hoje senti a necessidade de refletir sobre o ato de permanecer calado. Inicialmente não soube o porquê de, diante dessa necessidade, ter-me lembrado de um episódio que me aconteceu no último mês de dezembro. Depois de pensar a respeito, acho que entendi e, se tiverem a paciência de ler até o final, poderão acompanhar meu raciocínio.
     Em 8 de dezembro de 2012, estava passando o fim de semana com meus pais e meu irmão no litoral norte, mais precisamente na Barra do Sahy. Eu estava tentando convencer meus pais a me levarem à cachoeira de Boiçucanga, a uma meia hora de distância, mas minha mãe foi categórica e disse que não iria "se aventurar" (para chegar lá, é necessário fazer trilha). Meu pai e meu irmão se empolgaram e fomos. Para quem está acostumado a fazer trilha (infelizmente ainda não é meu caso) o caminho é fácil, não há dificuldade em atravessar algumas pedras bem grandes e escorregadias, andar sobre outras pedras bem pequenas seguindo o curso de um rio, subir, descer, segurar em alguns cipós para conseguir alcançar o próximo caminho, depois fazer tudo de novo até chegar lá. Para mim, foi difícil. Tudo porque eu inventei de levar meu celular, a fim de "registrar o momento", afinal eu não sabia o que encontraria pela frente. Fiquei protegendo esse aparelho que tanto nos prende, com medo de deixá-lo cair, esquecendo o medo que eu mesma teria de cair e me esquecendo, principalmente, de respirar fundo e aproveitar o que para mim é a verdadeira felicidade: a Natureza. Permaneci o caminho todo reclamando do caminho, não parei de falar um só instante e ouvia de meus companheirinhos impacientes que eu deveria aguentar, pois a ideia de ir até lá partira de mim.
     Depois de tanto falar, deixando o "sentir", o "ouvir", o "apreciar" e tantos outros verbos de contemplação de lado, finalmente nos deparamos com uma cachoeira linda, praticamente vazia, de águas verdadeiramente cristalinas. Então, enquanto meu pai e meu irmão correram para ela, eu me sentei sobre uma pedra de frente para aquele paraíso particular e fiquei em silêncio por minutos a fio, só ouvindo o barulho da queda d'água, dos pássaros, insetos, enfim, da vida a meu redor. Eu, que sou conhecida em casa por só parar de falar quando estou dormindo, estava finalmente em silêncio. Um ingrato qualquer poderia pensar: "tanto sacrifício para ficar... em silêncio? Só olhando? Sem nem se molhar?". Pois é. Fiquei naquele estado de total contemplação tentando não pensar; nada pedi, nada queria, nada me faltava. Depois voltei a falar como de costume, mas fala alguma poderia se comparar ao silêncio anterior.
     Só hoje refleti sobre aquele momento. Eu estava pensando no fato de emitir opinião sobre tudo - confesso que pensando nisso como um dever - quando li a seguinte frase no Facebook: "Só fales quando tuas palavras forem mais proveitosas que teu silêncio". Calei até minha consciência e entendi como uma resposta. Logo eu, que falo-mais-que-a-boca e exijo atenção quando estou falando, fui levada a pensar que quando eu realmente não tiver a dizer algo que acrescente a mim ou a alguém, devo silenciar. Mas eu só saberei se acrescentou, dizendo, certo? Bom, daí talvez eu faça o teste comigo. O problema é que nem tudo o que acrescenta a mim, servirá ao outro.
     De agora em diante, vou optar mais vezes pelo silêncio. Não dizem que silêncio também é oração? Pois que assim seja. Afinal, o silêncio me proporcionou ouvir a queda d'água e deixar que seu som majestoso lavasse minha necessidade de expressar o que eu não sei o que é. A água da cachoeira, quando cai assim depressa, faz barulho... talvez porque seja esse um grito da Natureza exclamando: PARE E ESCUTE!. Se você que me leu até o fim chegou até aqui em silêncio, como o título sugere, considere que aprendeu o que eu também aprendi, quietinha.