segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O Ano da Raiz Crescente

     



     2013 está na reta final e eu me assustei quando, ao escrever para este espaço, percebi que um dos únicos posts que têm aqui é sobre o final de 2012. Meu Deus, como consegui passar tanto tempo sem compartilhar o que aprendo ou desaprendo?  Ontem mesmo estava batendo um papo cabeça com meu pai e comentei com ele do medo que eu tenho de parar. Não de morrer, pelo contrário, acho divina a ideia de morte, mas isso é pessoal demais para desenvolver agora. Falo de ficar parada, mesmo, como a água que se torna propícia para criar bichinhos. Claro que até isso tem seu lado bom, porque a água parada consegue fazer vida, mas, puxa, eu não sou água (adoraria)! Me apavora não mudar, ainda que as mudanças aparentemente não tragam nada de bom. E quando acessei o blog, caí em contradição. Mas o importante é se dar conta.

     Eu não quero falar do fim do ano. Pelo menos, não literalmente. Tudo o que não é literal me empolga mais. Nunca consegui achar que está chovendo só porque as nuvens se encheram d’água. Respeito quem consegue, mas hoje sei, felizmente, por que nunca fui capaz de olhar o mundo dessa forma. Eu não quero falar de nada óbvio, simplesmente porque não sou assim. Então, vou abordar um tema tão pessoal, que seria egoísmo ficar só comigo: o cabelo castanho.

     Isso mesmo! Sempre que perguntavam qual a cor natural do meu cabelo, eu entristecia. Eu achava óbvio demais falar só assim: castanho. Mas castanho o quê? Castanho claro, castanho escuro? Não, simplesmente castanho. O pavor de ser tão simples me fez começar a fazer luzes loiras lá pelos dez anos. Aos poucos fui me aventurando mais e um belo dia fui à escola com o cabelo loiro platinado. Amei o contraste, o choque, o não-óbvio e, para mim, tudo aquilo era atrevimento completo, então eu estava satisfeita. Passei um bom tempo oxigenando a consciência, até enjoar. Lembro exatamente o que me fez enjoar: assisti ao filme Lua de Fel e desde então botei na cabeça que a protagonista, Mimi (Emanuelle Seigner), era o exemplo de mulher que eu queria ser. E, vejam só, ela não era exatamente... loira (ao menos, não de farmácia). Comecei a escurecer meu padrão de beleza e, de repente, pintei o cabelo de “chocolate”. Não era castanho, era chocolate, mais legal de pronunciar quando perguntassem. Foi indescritível a sensação de reencontro comigo mesma e só então entendi que o louro branco até poderia ser incrível, mas não tinha mais nada a ver comigo. Teve, por muito tempo, mas já não me encontrava mais no grupo oxigenado do universo.


     Permaneci só alguns dias com o cabelo achocolatado. Com o passar do tempo a coisa ia desbotando, avermelhando e igualando com o tom da minha pele. Queria contraste. De novo, o horror ao óbvio, ao direto, nu e cru. Estava passando por um momento difícil e foi quando decidi tingir de preto. Aproveitei cada “indiazinha” ou “libanesa” que ouvia, fingindo que me dizia respeito. Mimi é a eterna referência, mas era Mia Wallace (Uma Thurman) de Pulp Fiction que agora se apresentava.  E finalmente cheguei no final (perdoe a redundância) de 2013. Cansei do cabelo comprido, cansei das costas (ou dos seios, depende do referencial) encobertos. Cansei de me cansar. Mas a verdade é que cortei o cabelo para resgatar o castanho simples e direto que existe em mim. Decidi não mais colorir os fios, e, em vez disso, colorir mais a vida. Essa danada está precisando de cor, embora eu prefira as sombras, o etéreo, o raio tímido de luz que vai iluminando a escuridão aos poucos, sem correr o risco de cegar. E agora que resolvi ver como é o famoso “deixar crescer a raiz” das mulheres que tingem os cabelos, entendi que o exemplo é demasiadamente belo.

      Não tem coisa mais linda que deixar crescer a raiz. Poucas sensações na vida inteira são melhores que estar deitado debaixo de uma árvore, olhando para o alto. Apoiar-se sobre a raiz, sobre a terra que nos fez, é divino, seja qual for a visão de “divino” que você (não) tenha. 2013 tem sido (porque NÃO ACABOU AINDA, em Caps Lock mesmo pra ver se fica claro) essa palavra para mim: autoconhecimento. Meu respeito às mulheres (e homens também, por que não?) que tingem suas raízes (continuo achando bonito), mas minha reverência, de joelhos, aos nativos de si próprios. Feliz 2014!