quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tesouros Musicais


Um dos aspectos mais interessantes das redes sociais é, a meu ver, a possibilidade de conhecer melhor o perfil das pessoas. Não estou colocando em questão até que ponto um perfil numa rede social pode ser verdadeiro, no caso de refletir uma personalidade. Não é novidade que as informações que uma pessoa coloca em seu perfil no Facebook, por exemplo, hoje são analisadas por profissionais de Recursos Humanos, sendo poderosas para indicar dados a outro perfil: o profissional.
     Introduções à parte, gosto de fazer perguntas simples às pessoas e fazê-las pensar em respostas complexas. Às vezes acho que toda pergunta simples esconde uma resposta complexa. Exemplo disso foi uma pergunta que fiz no Facebook na semana passada: “se você tivesse de escolher uma música como trilha-sonora de sua vida, qual escolheria?”. Achei interessantíssimo observar como as respostas de meus amigos têm a ver não só com eles, como seria absolutamente natural, mas também comigo!
     As duas primeiras respostas indicaram uma “difícil pergunta”. A Bruna Andrade, primeira a responder, eu conheci por intermédio de um amigo músico em uma ocasião engraçada. Seu estilo rocker e a amizade em comum não me deixaram dúvidas: a menina sacava de música, talvez com o mesmo gosto musical que eu, na ocasião. E talvez por isso tenha dito que a pergunta é difícil: vida musicada a muitíssimas trilhas!
     Algo parecido ocorreu com a segunda resposta, da querida Clélia Barbosa, professora de dança cigana. Fui sua aluna e sou eternamente encantada pela maneira como suavemente dança e vive. Ela respondeu “não sei” e é claro que não sabe, pois uma professora de dança ensina como “bailar conforme a música”, o que deve ser um poderoso indício de que viverá de acordo com a canção que a vida estiver tocando para ela dançar. E isso é mágico, me inspira!
     Depois, veio a resposta da Ariadine Rodrigues, minha amiga dos tempos de colégio. Ariri, como carinhosamente a chamo é “manauara” (nasceu em Manaus) e, por causa disso, brincávamos de chamá-la de índia na escola e nos divertíamos imitando índios para “saudá-la”. A resposta dela foi… ah, que divertida, “Dança da Chuva”! Que esse carisma indígena sempre a acompanhe.
     A Karen Gallão, que conheci no Twitter graças ao interesse comum pela dança cigana (viva!), respondeu “Montaña” dos Gipsy Kings. Sem antes dizer… “uma só? Difícil…”. Acho que para alguém que baila, principalmente essa dança amada que toca dentro do coração, é mesmo muito difícil. Mas essa música, perfeita para sonorizar uma vida inteira, afasta qualquer dificuldade. Amei a escolha: baila gitana!
     A Kitty Vilas Boas, que conheci na TV Gazeta onde trabalhávamos, respondeu “Tranquilo”, da Bebel Gilberto. Não conhecia a música, mas fui ouvir todas as escolhas para este texto e achei uma tranquilidade só, mesmo! Além da melodia deliciosa, a letra diz de cara: “Levo a vida tranquilo/ não tenho medo do mundo/ não vou me preocupar“.  Ah, a Kitty não tem mesmo por que se preocupar. Poucas vezes presenciei uma pessoa com tanto ânimo diante de qualquer dificuldade. Vou aprender com ela a “levar a vida tranquilo”. Tenho tentado e, por ter tentado, tenho conseguido.
     O Auro de Oliveira Junior, também amigo do colégio, respondeu… “Mario Bros Theme”. Aurinho, saiba que, quando eu era criança, costumava dizer uma frase que eu pensava ter “criado” e achava genial (convencidinha desde cedo, hehe): “A vida é como um videogame, porque a gente tem que ir passando de fase”. Acho que só consegui entender a vida nessa perspectiva depois de zerar a fita do Sonic no Mega Drive: matar Robotinik era o maior desafio de minha infância. Não faz muito tempo, mas não tinha dica na internet naquela época, então posso considerar um desafio enorme, certo?
     O Cristiano de Oliveira, querido amigo que conheci no Estadão onde trabalhei respondeu “Tocando em Frente”. Essa música me enternece tanto quanto o sorriso seguro de si do Cris; sorriso, este, que combina perfeitamente com uma música que diz “…levo esse sorriso porque já chorei demais“. Não importa o quanto tenha chorado, porque com esse sorriso, a lágrima fica com vergonha de cair.
     A Iara Silva, amiga que também conheci no Estadão respondeu “Water no Get Enemy”, Fela Kuti. Outra canção que eu não conhecia e que passei a incluir na listinha pessoal. Afrobeat que é a cara dela, não porque ela tenha dreads, mas porque a cultura iorubá adorna a vida dessa minha irmã e, se pôde enfeitá-la, vai conquistar o mundo todo num estalo. Se é que já não conquistou…
     O Simão Filho, meu tio-avô, respondeu “Estrada da Vida”. Curiosamente eu tenho estado na dúvida entre encarar a vida como uma longa estrada, com seus caminhos abertos, encruzilhadas, pedágios, passagens, encontros e desencontros ou como uma escola, com seus aprendizados todos. Suponho que haja uma escola na beira da estrada dessa minha vida, na qual eu parei para me preparar um pouquinho (ou muito). É, tio, essa trilha-sonora é para quem sabe como dirigir a vida, como o senhor. Só não vá deixar o tempo cercar sua estrada, como diz o finzinho da letra, hein?
     Outro querido do Estadão, que também manja das ruas da vida é o Murilo Rettozi, que respondeu depois do tio Simão. E a resposta foi… “Thunder ROAD”, reparem na caixa-alta. Esse é meu irmãozinho conhecedor da boa música, das escolhas, dos caminhos. Ele sabe por que tudo isso. E “Thunder Road” é certamente a trilha-sonora de alguém que encontrou uma estrada para seguir, mas não foi sozinho. Uma gargalhada estridente para quem ainda acha que é possível seguir só!!!
     Em seguida veio a resposta de Janny Marco, minha tia-madrinha: “My Way”. My Way era a canção de que seu falecido marido, meu querido tio Vado tanto gostava. Eu era criança quando nós o perdemos. Não sabia Inglês e nunca entendia se esse “way” traduzia-se como “caminho” ou “maneira”. Hoje já não importa, porque entendi, com ou sem essa música, que devemos trilhar o caminho à nossa maneira. “My Way” começa dizendo que “agora o fim está próximo”. O fim daquele caminho de meu tio havia chegado mesmo, mas essa grande guerreira fez, do jeito dela, como sempre, um novo começo.
     Minha mãe, Vera Bueno, amor incondicional para uma vida inteira que eu viva até o limite e mais uma porção delas, respondeu com “Tocando em Frente”, assim como o Cris. Quem compreende melhor uma marcha, para tocar em frente, como uma mãe? Quem conhece melhor as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs… que uma mãe? Descobri no Facebook que a trilha-sonora da minha mãe é ser mãe, porque vai tocando a vida dela e a minha junto. Sou abençoada.
     Gabriela Monteiro, minha amiga de colégio e de outras fases desses meus 21 anos de vida respondeu por último, mas não menos importante, com “La Vie en Rose”. Se eu não soubesse que ela escolheria essa música, arriscaria dizer que ela escolheria como trilha-sonora uma canção para quem não ESTÁ, mas É apaixonado. Gabi é apaixonada: por meu amigo Murilo Bodo, pelo que faz, pelo que é. É apaixonada pela vida. Não poderia haver mensagem mais bela para minha simples pergunta.
     Agradeço aos amigos por terem-me proporcionado mais esse aprendizado. Quis conhecer melhor seus perfis e acabei adaptando meu perfil a todos esses laços de afeto e personalidade que nos unem. Minha trilha-sonora, “Senhora das Candeias”, diz que “meu coração é feito de pedra de ouro/ o meu peito é um tesouro que ninguém pode pegar”. Vocês acrescentaram mais joias a este tesouro que é meu coração.
Com amor e muita música,
Marcela

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A Queda D'água (Não Leia em Voz Alta)

     
     Hoje senti a necessidade de refletir sobre o ato de permanecer calado. Inicialmente não soube o porquê de, diante dessa necessidade, ter-me lembrado de um episódio que me aconteceu no último mês de dezembro. Depois de pensar a respeito, acho que entendi e, se tiverem a paciência de ler até o final, poderão acompanhar meu raciocínio.
     Em 8 de dezembro de 2012, estava passando o fim de semana com meus pais e meu irmão no litoral norte, mais precisamente na Barra do Sahy. Eu estava tentando convencer meus pais a me levarem à cachoeira de Boiçucanga, a uma meia hora de distância, mas minha mãe foi categórica e disse que não iria "se aventurar" (para chegar lá, é necessário fazer trilha). Meu pai e meu irmão se empolgaram e fomos. Para quem está acostumado a fazer trilha (infelizmente ainda não é meu caso) o caminho é fácil, não há dificuldade em atravessar algumas pedras bem grandes e escorregadias, andar sobre outras pedras bem pequenas seguindo o curso de um rio, subir, descer, segurar em alguns cipós para conseguir alcançar o próximo caminho, depois fazer tudo de novo até chegar lá. Para mim, foi difícil. Tudo porque eu inventei de levar meu celular, a fim de "registrar o momento", afinal eu não sabia o que encontraria pela frente. Fiquei protegendo esse aparelho que tanto nos prende, com medo de deixá-lo cair, esquecendo o medo que eu mesma teria de cair e me esquecendo, principalmente, de respirar fundo e aproveitar o que para mim é a verdadeira felicidade: a Natureza. Permaneci o caminho todo reclamando do caminho, não parei de falar um só instante e ouvia de meus companheirinhos impacientes que eu deveria aguentar, pois a ideia de ir até lá partira de mim.
     Depois de tanto falar, deixando o "sentir", o "ouvir", o "apreciar" e tantos outros verbos de contemplação de lado, finalmente nos deparamos com uma cachoeira linda, praticamente vazia, de águas verdadeiramente cristalinas. Então, enquanto meu pai e meu irmão correram para ela, eu me sentei sobre uma pedra de frente para aquele paraíso particular e fiquei em silêncio por minutos a fio, só ouvindo o barulho da queda d'água, dos pássaros, insetos, enfim, da vida a meu redor. Eu, que sou conhecida em casa por só parar de falar quando estou dormindo, estava finalmente em silêncio. Um ingrato qualquer poderia pensar: "tanto sacrifício para ficar... em silêncio? Só olhando? Sem nem se molhar?". Pois é. Fiquei naquele estado de total contemplação tentando não pensar; nada pedi, nada queria, nada me faltava. Depois voltei a falar como de costume, mas fala alguma poderia se comparar ao silêncio anterior.
     Só hoje refleti sobre aquele momento. Eu estava pensando no fato de emitir opinião sobre tudo - confesso que pensando nisso como um dever - quando li a seguinte frase no Facebook: "Só fales quando tuas palavras forem mais proveitosas que teu silêncio". Calei até minha consciência e entendi como uma resposta. Logo eu, que falo-mais-que-a-boca e exijo atenção quando estou falando, fui levada a pensar que quando eu realmente não tiver a dizer algo que acrescente a mim ou a alguém, devo silenciar. Mas eu só saberei se acrescentou, dizendo, certo? Bom, daí talvez eu faça o teste comigo. O problema é que nem tudo o que acrescenta a mim, servirá ao outro.
     De agora em diante, vou optar mais vezes pelo silêncio. Não dizem que silêncio também é oração? Pois que assim seja. Afinal, o silêncio me proporcionou ouvir a queda d'água e deixar que seu som majestoso lavasse minha necessidade de expressar o que eu não sei o que é. A água da cachoeira, quando cai assim depressa, faz barulho... talvez porque seja esse um grito da Natureza exclamando: PARE E ESCUTE!. Se você que me leu até o fim chegou até aqui em silêncio, como o título sugere, considere que aprendeu o que eu também aprendi, quietinha.