quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A Queda D'água (Não Leia em Voz Alta)

     
     Hoje senti a necessidade de refletir sobre o ato de permanecer calado. Inicialmente não soube o porquê de, diante dessa necessidade, ter-me lembrado de um episódio que me aconteceu no último mês de dezembro. Depois de pensar a respeito, acho que entendi e, se tiverem a paciência de ler até o final, poderão acompanhar meu raciocínio.
     Em 8 de dezembro de 2012, estava passando o fim de semana com meus pais e meu irmão no litoral norte, mais precisamente na Barra do Sahy. Eu estava tentando convencer meus pais a me levarem à cachoeira de Boiçucanga, a uma meia hora de distância, mas minha mãe foi categórica e disse que não iria "se aventurar" (para chegar lá, é necessário fazer trilha). Meu pai e meu irmão se empolgaram e fomos. Para quem está acostumado a fazer trilha (infelizmente ainda não é meu caso) o caminho é fácil, não há dificuldade em atravessar algumas pedras bem grandes e escorregadias, andar sobre outras pedras bem pequenas seguindo o curso de um rio, subir, descer, segurar em alguns cipós para conseguir alcançar o próximo caminho, depois fazer tudo de novo até chegar lá. Para mim, foi difícil. Tudo porque eu inventei de levar meu celular, a fim de "registrar o momento", afinal eu não sabia o que encontraria pela frente. Fiquei protegendo esse aparelho que tanto nos prende, com medo de deixá-lo cair, esquecendo o medo que eu mesma teria de cair e me esquecendo, principalmente, de respirar fundo e aproveitar o que para mim é a verdadeira felicidade: a Natureza. Permaneci o caminho todo reclamando do caminho, não parei de falar um só instante e ouvia de meus companheirinhos impacientes que eu deveria aguentar, pois a ideia de ir até lá partira de mim.
     Depois de tanto falar, deixando o "sentir", o "ouvir", o "apreciar" e tantos outros verbos de contemplação de lado, finalmente nos deparamos com uma cachoeira linda, praticamente vazia, de águas verdadeiramente cristalinas. Então, enquanto meu pai e meu irmão correram para ela, eu me sentei sobre uma pedra de frente para aquele paraíso particular e fiquei em silêncio por minutos a fio, só ouvindo o barulho da queda d'água, dos pássaros, insetos, enfim, da vida a meu redor. Eu, que sou conhecida em casa por só parar de falar quando estou dormindo, estava finalmente em silêncio. Um ingrato qualquer poderia pensar: "tanto sacrifício para ficar... em silêncio? Só olhando? Sem nem se molhar?". Pois é. Fiquei naquele estado de total contemplação tentando não pensar; nada pedi, nada queria, nada me faltava. Depois voltei a falar como de costume, mas fala alguma poderia se comparar ao silêncio anterior.
     Só hoje refleti sobre aquele momento. Eu estava pensando no fato de emitir opinião sobre tudo - confesso que pensando nisso como um dever - quando li a seguinte frase no Facebook: "Só fales quando tuas palavras forem mais proveitosas que teu silêncio". Calei até minha consciência e entendi como uma resposta. Logo eu, que falo-mais-que-a-boca e exijo atenção quando estou falando, fui levada a pensar que quando eu realmente não tiver a dizer algo que acrescente a mim ou a alguém, devo silenciar. Mas eu só saberei se acrescentou, dizendo, certo? Bom, daí talvez eu faça o teste comigo. O problema é que nem tudo o que acrescenta a mim, servirá ao outro.
     De agora em diante, vou optar mais vezes pelo silêncio. Não dizem que silêncio também é oração? Pois que assim seja. Afinal, o silêncio me proporcionou ouvir a queda d'água e deixar que seu som majestoso lavasse minha necessidade de expressar o que eu não sei o que é. A água da cachoeira, quando cai assim depressa, faz barulho... talvez porque seja esse um grito da Natureza exclamando: PARE E ESCUTE!. Se você que me leu até o fim chegou até aqui em silêncio, como o título sugere, considere que aprendeu o que eu também aprendi, quietinha.

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