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terça-feira, 7 de maio de 2013

Um abraço, muitas lições



     Se eu pudesse resumir essas duas últimas semanas em uma única frase, certamente seria o clichezão “recordar é viver”. Passei os últimos dias recordando, com saudade. Velhas fotos, velhos hábitos, velhas manias, velhos amores que, se já velhos, nunca foram amores... disso eu também me lembrei. Mas para perceber que de repente toda essa velharia morreu, não tem mais vida dentro da minha própria vida. Simplesmente não gosto de nada que não me faça mais falta. Mas junto a essas lembranças tórridas, vieram também as doces. Essas, sim, deixam saudade, porque sempre farão parte de mim. Liderando todo esse pensamento doce, ali estava meu falecido avô, como que montando os cavalos que ele desenhava para me mostrar que tudo que há nessa vida é passível de ser domado, montado. Exceto a morte. O que não acho ruim, pelo contrário! Mas essa discussão não cabe aqui, por isso me deixo prosseguir.

     No último sábado, o momento mais doce do meu dia foi ter segurado um bebezinho, até então desconhecido, no colo. Soube, depois de ser agraciada com o sorriso mais puro e o toque da mais singela mãozinha sobre meu colar, que aquela criança tinha um problema no coração. E ela se deitava sobre meu peito, como a pedir que eu a fizesse dormir. Foi então que entendi o sentido total de uma palavrinha em torno da qual eu fantasiava demais: proteção. O sentido mais primário da proteção é instintivo, é a proteção de que um bebê precisa diante do mundo a que veio; o cuidado. E, de novo, vovô me veio à memória. Isso porque, no dia mais triste de minha vida, há algum tempo, quando eu cheguei a pensar que nada mais havia de ser feito e por isso ninguém faria por mim... sonhei com meu avô. Ele apenas me abraçava sorrindo e eu me deitava em seu peito, igualzinho a um bebê com sono. Ele parecia dizer que tudo ficaria bem. Não disse, mas ficou tudo bem a partir de então. Simples assim.

     Ontem, assistindo a uma previsão astrológica semanal na TV, a astróloga dizia que a água - portanto, os signos regidos por ela - representa a emoção. Água também lembra vovô, água do mar. Porque ele pescava, morava na praia; ensinava-me, quando eu era criança, que eu não deveria ter medo do mar. Mas certamente não me deixava ir longe quando eu corria para as águas de Iemanjá. Nem longe, nem sozinha. Isso, de novo, é proteção.

     Toda vez que minhas emoções ficam à flor da pele, acredito que vou tirar alguma coisa importante delas, algum aprendizado. Dessa vez eu entendi, pessoalmente, que algumas vezes precisamos proteger aqueles que amamos. Outras vezes, precisamos ser protegidos. A proteção é algo muito mais amplo do que aquilo que eu achava que era. Antes, eu achava que para estar protegida era preciso materializar isso em amuletos, quais fossem. Hoje, se eu não tiver um amuleto, ao menos tenho a certeza. 

     Antes, quando eu segurava um bebê no colo - geralmente bem conhecido, da família - esbravejava por não conseguir fazer a criança dormir, mesmo sabendo que ela tinha sono, enquanto minha mãe só encostava o pequeno em algum canto mágico do corpo e a mágica acontecia. Hoje eu entendi que não se trata de mágica. Que a criança tinha sono, mas só se entregaria onde sentisse proteção. Porque eu só me preocupava com um jeito certo de segurar e encostar no peito para mostrar que estava fazendo certo, quando, na verdade, não importava "o certo". Hoje sei que, se alguém precisar de proteção, basta conceder. É simples como ouvir "não vai muito fundo!" quando você decide entrar no mar. Ainda sobre o mar, simples como sentir-se segura num barco quando você conhece quem está no comando do motor ou da vela. E simples como abraçar/ deixar ser abraçado e, sem dizer nada, ensinar/aprender tanto.